Ao som dá torneira pingando eu botei uma música e dancei. Nada tão sério ou agradável. Um balançar de corpo no tempo e espaço e talvez um cabelo que sacode sem vento. De tantos tormentos dentro de mim ao menos um deles devia sair. Não saiu. Fez morada em meu corpo e me transformou num doido que dizia ouvir vozes. Na verdade eram tiques e cada um deles tinha dono, um era do relógio, outro era dá torneira, outro era no galho que batia na minha janela e outro era dela. A louca que mora em frente meu apartamento.
– Você tem um ovo? – E era assim que todo dia eu lhe dava alimento e ela continuava pedindo. Certo dia a encontrei no corredor, ela bem louquinha me perguntou onde ia.
– Onde vai?
– No supermercado comprar ovos pra vo.. pra mim! É pra mim que adoro ovos e vivo comprando sabe? Eu amo ovo em tudo e olha só a hora tenho que ir! – Idiota como sou quase falo que estava comprando ovos pra ela e falei de horas e nem relógio tinha.
Acho que ela não percebeu, continuou balançando a cabeça e sorrindo. Fui embora antes que confessasse todos meus outros crimes. Depois de um tempo ela começou a pedir arroz, depois feijão, passou pra açúcar, frutas, carne, maionese, batata. Um dia estava tomando banho na minha casa dizendo que haviam cortado sua água.
– Em que você trabalha?
– Bom, eu na verdade sou um desenvolvidor de games. Faço os gráficos. Sabe aquele jogo…
– Legal! – Acho que ela só tá comigo pra me usar. Até hoje vive aqui. Já tem seis anos que estamos juntos e ainda não sei quando ela vai embora. Mas isso está bom. Muito bom.
Uma realidade até que bem gostosa pra quem desenvolve jogos virtuais
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Sim, não pensei nisso antes haha
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