De loucos todos temos um pouco.


– Anastácia – A menina disse séria mostrando os dedos em “Seis anos”, o homem olhou para a menina com pavor, quantos germes ela devia ter, pensou. Ela sorria mostrando que não tinha um dente. Ela olhou pra ele com os grandes olhos castanhos e o rosto cheio de sardas. Ele começou a se sentir mal. Contar, precisava contar. Olhou para os ladrilhos do chão e começou a contar primeiro os cinzas, 1,2, 3, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12… Quando começou a contar os brancos a menina o tocou, puxou a sua manga da blusa.
– Não me encosta – ele disse alto – não me encosta – foi abaixando o tom – não me encosta – ele cochichou. A menina franziu o cenho.
– Você é doido?
– Não!
– É sim – ela disse franzino o nariz pequeno.
– Não sou menina suja!
– Não sou suja!
– É sim! – A menina lhe mostrou a língua, depois sorriu com alguma ideia má lhe formando na cabeça com cabelo liso chanel.
Passou a língua na mão e esfregou no braço do homem.
Ele gritou, pegou um pacote de lenços umedecidos com agentes antibacterianos.
– Eca, eca
– Haha! – A menina se ria e apontava para ele – você é doido igual o primo Antonio! – Ela disse como uma mulher crescida.
– Não sou, eu me chamo Benário! Não sou doido. – Ele fez uma expressão de criança machucada. Um homem de blusa azul e calça linho bege o chamou.
– Benário? – Ele se levantou, olhou para os lados, pegou a bolsa de couro, andou olhando para a direita e esquerda, evitou as cores cinzas e pisou apenas nas brancas.
Entrou na sala, mas sem se encostar no homem, então, só então a porta se fechou.
A menina suspirou frustrada, não tinha mais com quem conversar.
Havia esquecido de dizer para ele que também era doida.


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