Amargo.


Eu já não sei quem eu sou, já não consigo encarar essa página branca. Meu coração já não pertence a mim, na verdade acho que pertence a três ou a dois, e um deles já pertenceu por inteiro, mas ele se foi. E assim continha, todos se vão. Já não sei se quero, tudo que quero se desmancha, vira pó, e no final só eu fico ali de concreto. Já não sei o que é amor, ou dor, já não sinto nada. Quantas manhãs terão que passar para eu descobrir que sinto frio? Nem doenças mais eu pego, já me tornei um parasita sem hospedeiro, mas eu hospedo, eu virei o hospedeiro, isso está me matando. Tudo amarga, até os doces, minha língua já virou um órgão muscular sem sentido algum, sem doce, sem sal, sem picante, só o amargo, só o pó do café, sem o doce, só a água, nem o cheiro.

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Já virei um clichê próprio. Me sinto tão nua quanto meus sentimentos.

Venha aqui querido, me sirva de conhaque, sirva conhaque com cacos de vidro, faça com que desçam pela minha garganta me cortando, já que não sinto nada, já que não mereço nada, já que não tenho nada, já que só existo, também vou parar de viver.


9 respostas para “Amargo.”

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